Que o associativismo esteja a atravessar uma crise não é novidade. Cada vez menos o ser humano cultiva o espírito de entreajuda. O bairrismo está a desaparecer. Actualmente, é difícil encontrar alguém que esteja disposto a despender o seu tempo em serviço voluntário da sociedade. Ainda para mais sabendo que se atravessa uma crise económica, poucos são os que podem ou querem agir em prol da cidadania sem receber qualquer remuneração.
Mas parece que as coisas não são bem assim. Há dois anos iniciei, em conjunto com Bruno Oliveira, um projecto desportivo que viria a ocupar parte do nosso tempo: a criação da equipa de Futsal Feminino do G.D.C. Lordelo. Uma vez empenhados em levar a nossa causa a bom porto, tivemos algumas vezes de relegar para segundo plano a vida familiar e profissional. Com orgulho percorri, durante estes dois anos, centenas de quilómetros todos os fins-de-semana. Não menos empenhado, Bruno Oliveira deslocou-se várias vezes para Aveiro, durante um trimestre, onde fez o curso de treinador.
No início não foi fácil. Tivemos de reunir apoio de várias pessoas e encontrar patrocinadores. Após um ano de treinos, a equipa tornou-se mais competitiva e, com a ajuda de um director, que foi excepcional na força e dedicação que deu ao projecto, conseguimos entrar no campeonato distrital de Seniores Femininos da Associação de Futebol de Aveiro.
Para além de treinadores e impulsionadores, eu e o Bruno Oliveira éramos directores do G.D.C. Lordelo. No entanto, alguns meses após o inicio da corrente época desportiva, fomos afastados da direcção do clube por o presidente, Vitor Tavares, considerar que as pessoas da área do desporto não poderiam dar o seu melhor à direcção do clube, estando já ocupadas com vários objectivos. Apesar de, na direcção, haver quem nem às reuniões compareça e mesmo assim mantém o seu cargo há vários mandatos, acatamos a decisão. Sabemos que demos o nosso melhor. O único lado positivo é que, com esta decisão, as nossas preocupações e o tempo que teríamos de empregar seriam menores.
Na semana passada, com o encerramento do campeonato, que correu sem actos de indisciplina e onde até superámos algumas expectativas, o presidente do clube decidiu afastar-nos dos cargos que ocupávamos. Foi uma decisão em que confessou não estar só, mas para a qual não deu nenhuma explicação nem transmitiu pessoalmente a notícia. Como se não bastasse, afirmou em reunião (na qual não éramos autorizados a estar presentes) que caso a equipa técnica tentasse levar as jogadoras para outra equipa do concelho estava proibida de realizar o seu trabalho no Pavilhão Ilídio Pedro, apesar do protocolo assinado com a Câmara Municipal.
Após tanto esforço e tanta dedicação, sem nenhum proveito económico, somos assim postos de parte sem qualquer explicação, sem nenhum agradecimento e ainda por cima com a proibição de voltar a fazer o que gostamos num clube ao qual demos tudo o que podíamos.
Vitor Oliveira